'Sabe mãe... Você podia, ter me deixado com alguém que se importa-se comigo. Alguém que cuida-se de mim, a culpa é sua, totalmente sua! -Disse deixando algumas lágrimas caírem então atirei terra na lápide. Eu te amo tanto... Tanto. Por favor mãe, me ajuda.' -Senti uma leve brisa passar por mim, não sei porque, mais meu acalmei. Respirei fundo, ainda tinha que ir no trabalho, ia matar as 2 penúltimas aulas, então, que seja ao menos tentando me ajudar, e ajuda meu pai. Me levantei, limpando minha calça da terra do cemitério, ajeitando-me. Abri a bolsa, peguei um prendedor de cabelo, com uma estrela, Mel disse que o mesmo a lembrava de mim. Peguei um lápis, e um espelho escrito "É errado, mas você pode, você faz, você consegue. 66". Mel de novo, arrumei-me, ali mesmo, no cemitério. Arrumei meus óculos, estava apresentável. Tirando a parte de mim, que gritava dizendo que eu parecia ter 60 anos, estava apresentável.
Levantei-me dali, joguei o pitoco do cigarro de maconha, que havia sobrado, e sai dali, sem olhar para trás.
Talvez se eu olha-se, veria a mulher de cabelo loiros, e olhos cintilantes como os meus, vestida de branco, como um anjo, que pegou o pedaço que sobrou do cigarro, decepcionada, mas logo após, olhou-me, e seu rosto esboçou um sorriso angustiado, e esperançoso.
'Seu desejo é uma ordem.' -Foi o que ela disse, e quando me virei, para ver se havia algo ali, só me deparei com a lápide de minha mãe, vazia. Tanto a lápide quanto eu, estávamos vazias. Andei, e quando vi, estava de frente da lanchonete. Ok, Lua. Você consegue, pelo seu pai e por você. Fui até lá, as pessoas olhavam-me como se eu fosse um ET. Talvez pelos óculos gigantescos, ou pelo sorriso falso/estranho/paranoico, que eu esboçava. Era o único sorriso que eu conseguia esboçar desde a morte da minha mãe, e era raro esboçá-lo. Caminhei até o caixa, onde uma menina aparentemente da minha idade, com rosto de menina, e corpo de mulher, me atendeu com um sorriso feliz. Talvez não tããão feliz, lógico, ela tinha que passar horas sendo simpática com pessoas retardadas, não podia culpá-la. Ela era-me familiar. Pude perceber que seus olhos também me fitavam.
'Blanco.' -Ela disse, esboçando um sorriso por me reconhecer. Notei que ela não era uma simples menina bonita, ela era a menina bonita. Sophia Sampaio Abrahão, ah sim, a líder de torcida. Ela esperou para ver a surpresa que um nerd faria ao ver que foi reconhecido por alguém como ela, mas não expressei nada. Na verdade estava imaginando porque alguém popular estava ali, trabalhando. Eles costumavam matar aula, mas não para procurar emprego. E como se lê-se meus pensamentos, ela entendeu.
'Ai... Por favor, não conte para ninguém! É que eu... Tinha que ajudar meus pais...' -Ela disse um quanto envergonha.
'Para que eu contaria?' -Disse tentando ser simpática, mas a questão era, eu não sou simpática, eu afasto as pessoas de mim, e se pude-se, mandaria todos para o inferno, os xingando de cornos e putas. Mas... Isso não vem ao caso.
'Então, o que deseja?' -Ela disse com uma expressão de alívio.
'Trabalhar aqui.' -Disse seca, aliás, quem ela achava que eu era? Uma fofoqueira? Mas não... Eu não era uma garota que falava tudo que pensava sem temer, eu era Lua Maria Blanco, eu temia.
'Ah sim, vou chamar George. Ele ficará feliz em ter um funcionário descente, que não esteja com olhos vermelhos por uma noitada.' -Ela disse rindo, e indo buscar o possível chefe. Mal sabe ela, que antes de estar ali, eu estava em um cemitério, fumando maconha e conversando com um túmulo. Normal, não? Sentei-me nas cadeiras disponíveis no balcão, entendi porque Sophia trabalhara ali, era mais utilizado por velhinhos pacíficos, adolescentes bêbados desconhecidos, ou executivos que não tinham tempo de tomar um café da manhã normal, então optam por querer um copo de café, e algumas rosquinhas. Logo Sophia voltou, com um homem de bigode e cabelos grisalhos, gordinho, e com um sorriso. Típico dono de uma lanchonete, passava a ilusão de uma alegria, mas na verdade, nem eu, nem Sophia estávamos felizes. Voltei com meu sorriso psicótico, e ele pareceu nem se importar. Trazia uma prancheta em mãos, um formulário talvez.
'Olá! -Ele disse sorrindo, e antes que responde-se, continuou a dizer- Eu sou George, o dono. Você parece uma jovem legal. Adoraria que você trabalha-se aqui, depende de sua idade, e só tem que responder esse formulário, e respeitar umas regrinhas...-Ele tagarelava, sem parar, Sophia moveu os lábios, e dei por entender que a mesma disse "Com o Tempo Você Acostuma". Só balancei a cabeça, e voltei a prestar atenção em George, e com o tempo, ele e Sophia haviam ido trabalhar, enquanto eu preenchia o formulário, minha cabeça implorava por algum remédio, mas eu tinha que terminar aquilo logo. Logo havia terminado, então George pegou meu formulário, esboçando mais um de seus sorrisos de "Eu sou um vovô feliz". Sai dali, era óbvio que Sophia não iria querer chegar no colégio, com a nerd. Mas aí, me enganei, já que ela me acompanhara.
'Eu já disse que não vou contar.' -Disse seca, tentando afastá-la dali, de "amiga" minha, só tenho a Mel, ou melhor, tinha.
'Ah... Mas eu sempre quis ser sua amiga! Você é toda misteriosa, como se você esconde-se um mundo atrás desses óculos.' -Ela disse, e eu ri sem humor, "esconde-se um mundo atrás desses óculos" ela tinha razão. Tentei ser simpática com ela, Sophia não tinha a voz desafinada, e o corpo anoréxico como as outras líderes de torcida, e também não tinha a antipatia. Ok, eu não era a pessoa mais gentil do mundo, mas as líderes de torcida também não. Quem nos vi-se, acharia que éramos adolescentes normais. Normal... Está aí uma coisa que eu não sou, a muito tempo.
Cheguei na sala, ao lado de Sophia, que dizia algo sobre Micael, ah é, descobri... O "garanhão" Micael Borges, estava arrastando-se por Sophia. E só pude comprovar ao ver ele quase babar ao vê-la entrar. Na verdade, todos nos observavam entrar, mas Sophia nem ao menos se importava. Mel tinha um olhar vazio, então vi seu olhar descer para meu pulso, agora coberto pelo sobretudo. A aula passou rápido, uma coisa; Eu odeio a professora Fabiana. Eu tentava ser gentil, mas era impossível, ela sempre arrumava um jeito de atingir TODOS da sala, sem contar que suas aulas me faziam ter vontade de enfiar duas azeitonas do nariz, até elas irem ao meu cérebro e eu desmaiar. Lembrei no dia em que Maker e Chay viram quem colocava mais azeitonas no nariz, enquanto Micael era o jurado. Ri sem humor, e abaixei a cabeça esperando a aula acabar, ou a sala explodir.
Quando a aula acabou, arrumei o mísero material que havia sobre minha mesa (lápis e uma caneta, dados pela Mel), e caminhei sem vontade até casa.
Senti-me fraca, o mundo girava ao meu redor. Meu pai havia me batido de novo, o sangue escorria pela
minha boca. Droga! Por que ele fazia isso? Arratava-me pelo chão, tentando voltar a meu quarto, ouvia as risadas dos amigos do meu pai. Queria sair dali, antes que um deles chegassem perto de mim,
quando cheguei a meu quarto, me deparei com uma ferida na minha barriga, meu pai havia-me acertado com sua garrafa de cerveja. Olhei-o chegar próximo a porta do quarto, havia esquecido de trancar a porta, e a única escapatória era a árvore próxima a janela do meu quarto. Ali vamos nós, conversar com minha mãe de novo, ou procurar um lugar longe dali. Um lugarbem longe dali.

maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaais
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